terça-feira

A origem histórica e cultural do Carnaval

Ao contrário do que está escrito, não existia “Carnaval na antiguidade”. Aliás, o simples facto de a Wikipédia afirmar que existia “Carnaval na antiguidade” dá-nos uma ideia da qualidade duvidosa da informação contida naquele antro de marxistas. Não há nada que indique a existência do Carnaval antes de 1200 d.C. .

O termo italiano carnevale deriva do latim dominica carnelevalis — também conhecido por Domingo da quadragésima — que era uma festa que marcava, para o clero, a passagem do regime normal para o regime de penitência, e que significava a abolição da carne ou do peixe. Ou seja, carnevalesignificava a entrada no período temporal e sagrado da Quaresma, dando origem a outros termos vernaculares como antruejointroituscarême-entrant, etc.
Segundo o pregador Johann Geiler von Kaysersberg, era mais difícil convencer o povo a fazer a abstinência e penitência durante o período de tempo que vai do dominica carnelevalis até à Quaresma, do que meter um cavalo num barco pequeno. Então, a partir de 1500, os ritos de dissolução, conhecidos entre o povo coevo como “Carnaval”, passaram a ser particularmente cultivados — embora, já antes do século XVI existissem regiões da Europa onde o clero já teria conseguido, com maior ou menor sucesso, introduzir entre o povo a abstinência e penitência da Quaresma sem necessidade de rituais de dissolução.
Porém, o Carnaval não se propagou igualmente por toda a Europa católica: por exemplo, no noroeste de França e na província francesa da Bretanha, em Inglaterra, na Holanda (excepto na fronteira com a Bélgica), na Alemanha do norte e na Escandinávia, não existe alguma tradição do Carnaval — e isto nada tem a ver com a Reforma protestante, que surgiu depois. De modo diferente, o Carnaval disseminou-se em regiões como Itália, Espanha, Portugal, a maior parte da França, Suíça, uma grande parte da Alemanha com fulcro na Baviera, e na Grécia.
A razão desta diferenciação cultural ( chamo à atenção para aquilo que é, erroneamente, considerado como sendo “diferenças entre protestantes e católicos”) tem a ver com a história da tradição da penitência nas diversas regiões da Europa, e com a forma como a cultura romana influenciou ou não essa tradição da penitência.
Nas regiões do norte e noroeste da Europa medieval, comiam-se panquecas na Terça-feira Gorda, e não se celebrava o Carnaval porque eram regiões onde as taxas de penitência eram pacificamente aceites, e onde a confissão e a penitência eram vistas como assuntos privados e pessoais — ao contrário do que acontecia nas regiões da Europa mais influenciadas pela cultura romana, em que o processo litúrgico da penitência pública (e portanto, não privada) era uma tradição especifica.
A partir do início do século XIII, o Carnaval apareceu nas regiões de maior influência cultural romana, devido a um fenómeno de diferenciação cultural através do qual a tradição da confissão pública e da penitência pública foi sendo progressivamente abandonada em favor do avanço de uma maior privacidade e personalização

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